Monday, October 23, 2006

NUNCA MAIS

me cortarei ao fazer a barba, serei atropelado por um trator ou
cuspirei na testa de alguém do alto do meu escritório no 43° andar.

direi "te amo" sem ter certeza
economizarei as palavras "te amo"

serei trapezista, farei 3 gols numa final de copa do mundo ou
tocarei guitarra numa banda explosiva.

esquecerei quem sou
lembrarei quem sou

venderei raspadinhas da loteria pra quem não tem sorte,
venderei artigos úteis pra pessoas inúteis ou venderei coisa alguma.

exagerarei a dimensão de fatos simples
saltarei de um carro em movimento

esquecerei teu nome, fingirei que gosto da comida que você faz ou te deixarei dormindo sozinha.

pensarei que não há mais solução
deixarei de lado o que precisa ser encarado de frente

terei dúvidas de que cada dia renova tudo, deixarei de regar as plantas ou me levarei a sério demais.

confundirei liberdade com outra coisa qualquer
perderei tempo com outra coisa qualquer

tomarei remédio sem ler a bula, tentarei entender o amor ou partirei sem motivo.

nunca mais nariz sangrando, dores de cabeça ou dor de dente. nunca mais pagar impostos, descascar camarões, ligar pra embaixadas, ligar o número errado ou receber uma ligação a cobrar.

nunca é nunca.

meu cavalo e minha flor dizem basta.
ao redor, no deserto, olho pra cima e vejo novas constelações.

2 comments:

Anonymous said...

Se "nunca mais" fosse apenas uma palavra, como jamais, por exemplo, existiria talvez menos o equivoco de pensar nunca alguma coisa. O problema é que jamais pede também complemento, jamais o que mesmo? Sempre achei que não encotraria alívio no mundo nem fora dele. A terra do nunca, aquela mesma do Peter Pan, é a terra onde se pode dizer nunca mais, jamais... Mas nosso consolo é uma partilha que não justifica um tal recalque: uma condição humana, quase nunca solitária (porque os condicionantes de verdade são mais democráticos do que imaginamos)é nossa sublimação mutua... triste, sem dúvida(nossa condição), mas como as estrelas no céu, quando olhadas de longe, mais constelação do que solidão.
Abração João.

Daniel Boa Nova said...

deep, dude.
cool!

=]

PS: link feito!