Thursday, October 23, 2008

Monday, October 20, 2008

Despropósitos sem crítica


Chamou-me a atenção ao ler o El País do dia 17/10/08, encontrar a crítica de dança escrita pelo Sr. Roger Salas intitulada Despropósitos sin baile a respeito da obra “Pitié!” dirida pelo coreógrafo belga Alain Platel.

Por não haver visto a obra referida não me parece adequado contrapor pontos de vista sobre ela. Assim como não tenho nenhum interesse em defender as opções estéticas do coreógrafo belga (rebatidas com tamanho furor e desmedida agressividade pelo crítico deste jornal). Venho apenas questionar os valores e “despropósitos” desta crítica, uma vez que o texto publicado neste jornal peca pela falta de rigor, parâmetros de análise e um excessivo julgamento de valor.

Em contato com afirmações tão pejorativas quanto absolutas, torna-se evidente que o Sr. Roger Salas encontrou nesta obra aquilo que ele define como “no hacer nada bien”. Ao que pode-se deduzir que para o crítico referido deve existir “una forma de hacerlo bien”, levando nos a refletir sobre a existência de padrões supremos de legitimação social da arte.

Ao que parece, para o Sr. Crítico existem regras para o fazer artístico, cânones que ele não nos permite o conhecimento, transparecendo uma visão autoritária, extremamente subjetiva, até mesmo reacionária. Ao refletir sobre o título da sua crítica, inversamente, procuro entender o que significariam “despropósitos con baile”, ou “propósitos con baile”. E inevitávelmente pergunto: quais seriam os “propósitos de un baile”, Sr. Crítico?

No caso de existirem regras em arte, elas são muitas, tantas quantos são seus processos e resultados. Tentativas de definir o fazer artístico nunca foram suficientes, correndo sempre o risco de serem redutoras. No entanto, “As Normas do Gosto” (como já esclareceu David Hume, 1757), “servem ao propósito de constituir o espaço público da civilidade burguesa através de meios de legitimação”, trata-se, por tanto, de uma questão de poder. Encontrada no meio de comunicação social “El País”, me pergunto a que propósito esta crítica corresponde.

Em suas palavras: “Uno de los grandes dramas de la danza contemporánea es la nociva creencia de que este género es- por libre- un cajón de sastre donde cabe todo, y que, por ende, el público debe tragarse imperturbable lo que le hechen. Pues no.”, ao que não evito perguntar: em que lugar o Sr. Crítico situa a dança contemporânea?

Ao idealizar uma única forma de dança, todas as outras se transformam em negações da ideal, adjetivadas aqui com “despropositadas”, suas falhas recaem no simples fato de não atenderem aos mesmos propósitos da forma idealizada. E ao exigir uma danza ideal pura, o Sr. Roger Salas ignora o desenvolvimento e cruzamento das histórias da arte, das ciências cognitivas, da filosofia contemporânea, para não dizer das culturas. À sua exigência de uma regra afirmo que arte é exceção.

É sabido que a prática analítica requer conhecimento e observação da matéria analisada. Ao que para exercer uma análise precisa é necessário ir ao encontro a seu objeto, observá-lo como ele se apresenta, minuciosamente, não como se gostaria que fosse, evitando assim, expectativas e julgamentos que apenas produzem a cegueira crítica. Embora seja preciso reconhecer que “los límites de mi lenguaje significan los límites de mi mundo”, como bem explica Wittgenstein. Pensamento este que parece esclarecer a reacção cerrada do Sr. Crítico.

Longe de expor reflexões a cerca da prática artística contemporânea, o dito “ensaio crítico” se revela um discorrer dos valores pessoais do Sr. Roger Salas adjetivados sobre a profissão e o fazer artísticos. Valores estes que nada me interessam.

Peço portanto à Edição do jornal El País mais cuidado com as opiniões divulgadas.

Atenciosamente,

João Costa Lima

* À propósito: será que o propósito de um baile não seria ele mesmo?

Saturday, October 18, 2008

Aqui minha resposta ao texto/manifesto do Pedro Cardoso:

"Caro Pedro Cardoso,

Seu texto é interessante e pode provocar reflexões pertinentes ao momento atual, mas faço as minhas ressalvas:

1.Generalizar o problema da pornografia a todo ato de nudez me parece danoso, demasiado cristão e fechado quanto ao pensamento sobre o corpo e suas possibilidades ético-estéticas. Sugiro que você faça distinções mais rigorosas sobre o que seria a pornografia e a nudez “artística”, sabendo que a dimensão voyeuristica é inata ao homem.

2. Afirmar que arte não deve produzir sensações mas sim pensamentos é (no mínimo) uma enorme bobagem. Uma vez que vc valoriza o pensamento em detrimento da experiência sensorial. O que é pena e leviano: sabemos que a sensação vive no pensamento e vice-versa. Vindo de um artista da cena, suas afirmações me parecem ainda mais infelizes.

3. Em seus argumentos o Sr. me sugere ter medo do Corpo, como se este guardasse algo que precisa ser escondido. Pois afirmo que é verdade que a dimensão "demoníaca" existe "encarnada" em nós, e (felizmente) é através dela que gozamos da imanência na pele. Trata-se de uma questão de naturalidade em relação à nossos corpos (o que somos feitos). É fato que as crianças andam nuas e não se assustam tão facilmente quando vêem corpos nús. Tudo depende da educação e de interesses, seja na utilização da nudez seja na sua observação. Acho mais é que os artistas deviam cair na dança, "descobrindo" visões sobre nossos corpos, sem medo.

4.Situar a responsabilidade desta violência ao ofício dos atores nos diretores, produtores e roteiristas nada mais é do que se fazer de vítima, o que não me parece uma posição muito interessante. Ao meu ver os atores e atrizes que jogam este jogo aceitam as suas regras. Pagam o preço da visibilidade e permanência nesta corte mass-mídia. Falar o que você fala desde dentro deste sistema me leva a pensar que você compactua com esta lógica. Lógica esta que não se restringe apenas à utilização ou não de cenas eróticas, trata-se de algo que vem de mais longe e que vai mais além. Atravessa todos os conteúdos presentes na produção destes meios. E são todos políticos, em sua dimensão de discurso hegemônico, carregando interesses e visões de mundo sobre todas as esferas da sociedade.

5. Não posso negar a existência de uma “ditadura da bunda” no Brasil, ironicamente surgimos da nudez desinteressada indígena e hoje chegamos nesta mercância desenfreada do corpo. Isto que valoriza-desvaloriza o que temos de mais essencial: pele, ossos, músculos e nervos. Regida por leis (interesses) de lucro, nossa sociedade se agita sob o signo da exploração (classista, sexista, racista). Estas leis sim é que são pornográficas.

Para concluir, teu texto me parece apontar apenas um sintoma vísivel de toda esta lógica sem nunca atingir seu ponto mais essencial.

Ah, acharia muito mais potente caso vc, no Cinema Odeon, tivesse lido teu texto nú. Despido dos medos de usar seu corpo como manifesto, atravessaria a fronteira entre ficção e realidade mais naturalmente, oferecendo assim uma reveladora ambigüidade. E como diz o Manifesto Antropofágico: “o que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.

Saudações"

Thursday, October 09, 2008

tecnologia & progresso




desejantes máquinas desejantes