Saturday, June 19, 2010

"It´s like a movement without the bother of the meaning"


Ao se apresentar como festival de “música avançada e arte multimídia” (slogan para embalar este produto de adoração pop), o Sónar se situa no mercado como um marco do que seria “o desenvolvido, o moderno e o progressista”, destinado a atender a sede de novidade e prazer de uma geração pós-mtv guapa y moderna com pedigree europeu. A festa foi intensa. Neste baile consumidores foram consumidos. E agora, ao voltar desta selva-futura-idealizada para o nosso “mundo terreno”,  a sensação é de um vazio intenso. Vazio ideológico? What??? Contracultura? Nada! Aqui tudo é a favor, sim, MORE IS MORE! THE SHOW MUST GO ON! ENJOY YOURSELF!

Abrindo a noite, Air tocou músicas de seu último disco alternadas com sucessos mais antigos. Não faltaram Sexy Boy, Kelly watch the stars, entre outras. A sensação era de falta de sal, ou pimenta. Diante do minimalismo no palco, tudo se ouvia com perfeição, cada nota, cada textura, no entanto, o volume era baixo. Mesmo assim, pouco a pouco a psicodelia contemplativa alcançava níveis mais e mais intensos. Ao fim, a viagem valeu à pena.

Em um palco ao lado, Hot Chip me surpreendeu com sua capacidade para fazer dançar à  pura vibração positiva.

Máquina envenenada de combinação rock-funk-eletrônica, LCD Soundsystem foi uma porrada! Groove, muito groove, aliado a uma potente descarga de energia, uma força oscilante entre o festejar tudo e o protestar alguma coisa. Dançar até se acabar. Com direito a roda de pogo e tudo mais. Baile furioso. James Murphy é crooner de sangue quente. Anos luz de qualquer cd seu, LCD fez lembrar que música é experiência viva. POW! POW! POW!

Daí em diante a noite seguiu sem parar, “avançando pra cima”. A figura do DJ xamã. Alguém que aperta botões diante de uma multidão indefinida, circulando, combinando vibrações, energias, ressonâncias. Tudo muito básico com tecnologia e efeitos elevados ao cubo. No fundo as operações se resumem a aumentar, acelerar, variar, repetir, cortar, sempre para cima. Too Many Dj´s representou o auge deste espetáculo. Vestidos de smoking brancos, eles agenciaram os códigos da cultura clubber à exaustão, triturando referências disco, girando de citação (samples) em citação, em rotação sobre a própria música de baile. Sob um enorme globo espelhado, não era possível ficar parado.

Tudo muito. Câmeras, telões, a quantidade de estímulos e sua reprodução à exaustão. Espirais dos acontecimentos, incessante jogo de espelhos, parque de diversões insone. Muita, muita energia. Era carnaval. E nesta cinética desvairada, onde parar não é opção, uma pista de carros bate-bate é a melhor imagem: todos, sem nenhum objetivo ou sentido à vista, chocando-se uns aos outros, alegremente à deriva. 

Sem darmos conta, fez-se dia. 

2 comments:

João said...

O título é da música Movement, Lcd Soundsystem.

Etil said...

Boas histórias. Quase consigo visualizar com fidelidade as luzes e sentir a aglomeração de gente em epifania, o "disseram por aí que a revolução não vai ser televisionada" ecoando que nem reza. Os vetores CULTURA DE MASSA e CONTRACULTURA apontados para o mesmo lado. Como a maioria vai mais para filtrar que para racionalizar, prefiro invejar (no bom sentido) as experiências e os shows. O ponto talvez seja: dá para ser crítico e hedonista ao mesmo tempo?