Tuesday, June 08, 2010

Ευρώπη

Isso aqui é uma beleza. É mesmo. Tudo funciona. As pessoas vão e vem. Homens, mulheres, crianças, velhos, cachorros, todos bem alimentados. Os dentes sempre fortes e sadios. Todos muito seguros, nada de risco, nada de armas de fogo à vista. O caminho de volta não sai do lugar. Sempre lá, e todos bem livres para ir e vir. É isso. Céu azul, flores na janela. De vez em quando um passeio de bicicleta. É, aqui as pessoas se preocupam com o meio-ambiente e com ele inteiro. As pessoas aqui são educadas, inteligentes, críticas, politizadas, autônomas, informadas. ONG`s aos montes. Aqui as pessoas sabem para onde vão. Não resta lugar a dúvidas. Este é o lugar. O lugar onde não existe exceção. Ou quase. O quase-lugar onde a exceção quase não existe. O lugar que gentilmente ofereceu a exceção aos outros lugares. E nestes outros lugares há falta. Sim, nestes outros lugares há falta, ausência, fome, sede. Mas daqui, deste lugar, nos preocupamos por tudo, tentamos resolver todos os problemas do mundo. Reais e imaginários, tanto faz. Aqui se decide, é, aqui se escolhe o futuro. O futuro daqui e dos outros lugares. Aqui a preocupação com tudo e com todos é grande, tão grande que até nem se vêem os horizontes do mundo. Tudo começa aqui. E o que não se vê, o que não se sabe, se intui. Se dedica a maior atenção para resolver, da melhor forma, com estratégias bem desenvolvidas, tecnologia de ponta e leis humanitárias, transformando tudo na maior indiferença. É, tudo aqui é assim, normal. Sem surpresas nem sobressaltos. Normal, demais. A expectativa de vida é altíssima. Vemos velhos por todas as partes. Eles são sábios, já viveram de tudo. Viram guerras, ditaduras, democracias. Vemos eles andando, lentamente, com as compras debaixo dos braços. E também vemos crianças. Brincando, aprendendo, se preparando para virarem os futuros velhos. É, isso aqui é antigo, tem o peso do tempo, isto aqui, cheira a mofo.

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