Basta. Já chega de ironia. Estou cansado. Vejo deja-vus por toda parte. Náusea de cultura pop, náusea de cultura pela cultura, náusea deste sem sentido transbordante. N`importe qu´oi. Às vezes penso que algumas pessoas são planas, que o mundo está parado, que tudo são linhas retas sem horizonte à vista________________________________ E é quando me lembro que tenho um deserto dentro de mim. E no fim o que nos resta são estes corpos, os nossos, distribuídos no espaço através do tempo. "É a vida", é o que dizem. E não podia ser diferente. Mas o fato (que não cansamos de esquecer) é que para estar vivo é preciso dar-se conta disso. É preciso viver. E aqui estamos, uma e outra vez. Incapazes de agir. Engolidos pelo vazio e pela eterna repetição. Pelos pequenos imensos caprichos. Pela desnecessidade transformada em fome. O estômago já não sabe mais dizer o que é alimento e o que é veneno. Tenho sede. Procuro novas águas. Procuro mergulhar e ser mergulhado. Tenho os ouvidos abertos. Procuro ouvir o sussurro. Um sussurro que seja um grito. Um grito que desapareça. Uma desparição que pareça uma dança. Uma dança que mate e faça viver. Um sussurro afiado de palavras que nada digam. Um som, uma voz, um eco que corte. Que me faça sangrar. Que me devolva a sensação de estar vivo. E assim eu devolvo tudo, tudo o que fui, o que sou e o que tive. Devolvo, sem ânimo de lucro. Ofereço meus pedaços aos carrapatos, vampiros e canibais. Me ofereço por inteiro. Esperando que não reste nada, rien, nothing. E daí vou sair para dias e noites, para um mundo sem planeta, um lugar que não exista, um buraco dentro de outro. E serei o que agora estas palavras escondem.
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