Todas as culturas sao escravas do idealismo - elas se definem por sua servidao face ao ideal. Apenas a tragédia poe o ideal perto da morte, mas como a morte é o inimigo nùmero um dos sistemas polìticos, a tragédia é caricaturizada como pura negatividade. A bravura da tragédia – ou mesmo o amor fìsico nao sao suficientes para abolir a fascinaçao pela morte – e é assim que ela nega o prazer como prìncipio de organizaçao da existência. E quem negarà que este desprezo em relaçao ao prazer também advém do êxtase ?
Constantemente opoe-se o teatro à rua, como se o teatro fosse falso e a rua real. A arte do teatro afirma sua independência absoluta em relaçao à rua. Ela se dedica à porta. Ela se dedica à parede. Ela deixa a rua à rua. De qualquer forma, quem pretende que a vida seja real ? Ela é feita como se fosse real. O fato é que aqueles que persistem em crer na ficçao desta realidade nao fazem parte das nossas preocupaçoes.
Estranho é todo o teatro onde o artista nao é ignorante. Pobre é qualquer texto em que o dramaturgo nao é ignorante. Como falar da ignorância como sendo uma virtude ? porque aqueles que sabem nos dao vontade de vomitar. Porque nòs desejamos partilhar o experimento daqueles que nao sabem, que sao animados apenas por uma intençao bela.
A arte do teatro aspira a nudez moral. Sendo assim a antìtese da educaçao, que é o vestimento, promessa de sufocamento em baixo de roupas éticas.
Falamos muito de ilegalidade, como se pensassemos que o crime fosse um sinal de distinçao, entretanto trata-se de um sinal de pobreza, um gesto de impotência. De outro modo, na arte do teatro, nòs nos apresentamos diante do pùblico nao como criminosos mas como sacerdotes de uma arte sagrada. Mas é complicado. Nesta decadência a democracia acusa o sagrado de ser criminoso.
O problema nao é oferecer ao pùblico um espìrito critico ( suspiro coletivo de confusao orquestrada) mas de colocà-lo em perigo…
Howard Barker
Nascido em 1946 na inglaterra, é diretor e autor de mais de cinquenta peças de teatro, além de pintor, poeta e teòrico em drama.
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2 comments:
jon, pensando no texto lindo se pudesse responder, ou acrescentar, qualquer coisa ao Baker, diria que
não sei ao certo se me agrada pensá-los como sacerdotes tanto quanto me enche a boca pensá-los mais ao modo de criminosos.
Na arte, por coisa sacra entende-se aquela que se pôs distante e inviolável, tamanho seu grau de consagração. Permitindo-se somente à constante repetência e louvação.
O que quer que vá um dia, não por abiogênese, tornar-se sacro, raramente desmerece seu trono e acaba por sendo digno de uma imunidade onipresente no tempo, contra transformações de matéria, gênero e corpo no próprio tempo. Então impõem-se limites no sacrário, cada arte, não mais ou menos merecedora do posto, nem viola outras artes futuramente sagradas como também não se sente ameaçada por essa gênese infinda de criações sacras.
O Teatro, enquanto arte de interação que afirma-se independente ao largo da rua, ainda que fosco, remete à um brilho quase marginal, com uma saudável falta de constância e regularidade no processo de criação por através das idades.
Vendo-o entregando-se à parede, à porta, à janela e ao telhado, lembro-me que tais anexos são as minhas, e as de todos, valiosas interfaces de passagem à rua e de entrada ao espaço a ser ocupado.
Admitindo nem todos os crimes serem potentes e distintos, vejo que, como o próprio teatro, tanto à margem da rua quanto à margem da porta, estão os criminosos.
:*
hahahah, me impolguei ein.
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